segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tipos inesquecíveis


 

Fonte: Blog de Geraldo Pereira.

 

sábado, 7 de junho de 2014O avô e a netaGeraldo Pereira e a neta.

Tipos inesquecíveis

 
Nas cidades do interior, ensina o mestre Ariano Suassuna, há sempre tipos que são peculiares às ruas e ao lugar, os quais terminam se integrando ao chamado dia a dia da cidade. Gente pobre, digo eu por cá, sem eira nem beira, imagino, que perambula pelos quarteirões, assinalando a presença, apenas. Gente que depende de um naco de carne ali ou de uns mil reis acolá. Na metrópole, também, sobretudo nos bairros do centro ou mesmo em logradouros dos subúrbios, pontificam figuras assim, quase folclóricas, que terminam passando à posteridade, tal a força com que marcam as gerações contemporâneas. Conheci muitos desses tipos e só não os conheço mais, porque deixei o velho hábito de transitar pelo comércio ou de andar nas periferias, por conta das minhas ocupadas rotinas. Trago alguns guardados na memória, ainda, caracterizados,pois, com as roupas de suas fantasias ou com os gestos de seus desejos.
Como esquecer do altivo “Dono da Rua do Imperador”? Homem franzino e de tez morena, vestido com uma mistura de fardas das várias corporações militares, incluindo o quepe, o qual nem sempre combinava com a indumentária escolhida. Trazia, ainda mais, o peito coberto por condecorações, as quais atestavam de seu imaginário as bravuras, em campos de batalha de seus devaneios. Conversei com ele inúmeras vezes na Festa da Mocidade e terminei entendendo o seu desvario, na condição de hipotético proprietário de uma via pública e portador de patente hierárquica superior: General da Cavalaria Submarina! Uma coisa, verdadeiramente! Patrulhava a Festa toda, na condição de auxiliar o Cabo Marcha-Lenta, comandante-em-chefe do pelotão local por anos a fio. Mas, passava ao largo da ilicitude dos meninos jogando o dinheiro dos pais na viciada roleta. Perdendo em todas as rodadas!
Lolita era outro e talvez tenha sido o primeiro homossexual assumido do Recife. Brabo como uma capota choca, pronto para enfrentar quem lhe desacatasse os brios. Lutava com gente nova e gente velha, dava na Radiopatrulha, mas terminava curtindo as agruras do xilindró, na velha Sorbonne da rua da Aurora, como chamava Paulo Malta, sede da Secretaria de Segurança. Fazia os maiores saracoteios na via pública e aí de quem lhe interrompesse os espetáculos. Pelas ruas do centro, também, circulava o “Reitor da Universidade Livre”, um homem negro, alto e forte, gordo, vestido a caráter, de paletó e gravata, sempre, não raramente de colete. Usava uma medalha pendente no peito. Em uma solenidade da Universidade do Recife, que precedeu a atual, UFPE, não foi chamado para a mesa que presidia os trabalhos e retirou-se do recinto em sinal de profundo protesto. Não suportou a desfeita de se misturar aos comuns; comuns do tempo e da hora! Fez muito bem!
Na rua em que morava existiam alguns desses tipos inesquecíveis. Um desses, Sabará, por apelido, de quem nunca soube seu nome, sequer o prenome, comparecia, todos os dias, completamente embriagado e cantava a plenos pulmões, a cada manhã: “Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer/Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou./ Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer./
Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou...”. Fazia de Vicente Celestino o seu ídolo, mas nunca descuidou da ironia fina com que tratava os circunstantes. Foi assim, que me vendo sair para a Faculdade, carregado de livros e cadernos, não hesitou: “Quando eu era menino, ia para a escola com uma carroça de cavalo cheia de livros. Esse ai, pensa que vai ser gente com quatro livros e três cadernos.”. La pela rua em que morou minha mãe, ainda circula “Piuite”. Já morreu, teve missa de 7º dia, orações gregorianas e ressuscitou ao trigésimo dia, sob as lágrimas pungentes de Paulo Brusky. Rebate falso da violência reinante!
E Zé Ventinha? Um pobre homem com uma lesão no nariz e que se indignava se lhe puxassem o paletó. Fiz isso diversas vezes e corri, sempre, feito um louco, para me livrar da ira e do desvario. Deus me perdoe dessa maldade!

sábado, 31 de maio de 2014

Cegueira de Ocasião


Chegou para trabalhar já passava mais de trinta minutos da hora aprazada, a do costume de todos os dias; mas, enfim, chegara. Naquela noite estava, particularmente, atarantado, tinha assistido à aula sobre tétano na Faculdade e aquilo o incomodava terrivelmente: era um hipocondríaco de livro. Soube de sua angústia e esperei pela chegada do chefe, a quem fui receber à porta do Centro de Saúde Gouveia de Barros. Contei o ocorrido e pedi que fizesse uma fisionomia de admiração, indagando-lhe o que havia. Vale a explicação de que a doença (tétano) provoca um riso especial, considerado nos compêndios de propedêutica como um “riso sardônico”. Foi assim: “Mas, o que há com você Valdir? Que riso é este?”. E o grande Valdir, diante de tanto espanto, de tanta surpresa, ficou de pé, levantou os dois braços e gritou em alto e bom som:“Estou com tétano!”. Quase enlouquece com as nossas dúvidas.

Era uma figura comum, igual a todos os outros estudantes de medicina, mas tinha essa peculiaridade, a hipocondria que o levava ao desespero, bastava estudar uma doença nova. Dizem que depois de formado, tendo ganho um bom dinheiro pras bandas do Maranhão, transformou-se em fazendeiro e hoje vive contando as cabeças de gado nos vários currais de que dispõe. Certa vez, porém, estudando em casa de um colega, na companhia de outros companheiros do curso, cismou que tinha engolido um pedaço de vidro da garrafa de coca-cola. A turma, matreira, como era, quebrou o bocal do recipiente e um deles perguntou alto: “Quem foi que quebrou a boca da garrafa de coca-cola?”. Só podia ter sido ele: Valdir. Repetiu, então, o gesto, de pé, com os braços levantados, deu o seu grito de guerra: “Engoli um pedaço de vidro!”. O grupo não fez por menos, levou o colega ao pronto socorro e assistiu de camarote o médico fazer radiografia de todo tipo, contanto que ficasse provado que o bocal não estava em seu estômago.

Os colegas se reuniam sempre para estudar e numa ocasião qualquer, um deles decorou parte do texto, enquanto outro apagava a luz. O nosso protagonista, de imediato, alertou: “Faltou luz!”.Mas o interlocutor que estava lendo o assunto da noite continuou falando e ainda insistia com Valdir: “Cala boca Valdir! Acompanha a leitura!”. O homem– pobre homem! -, gritou a plenos pulmões: “Estou cego!”. Foi uma risadaria geral e a ridicularia tomou conta do lugar. Valdir quase dá em gente com a raiva da hora.

Era assim o nosso colega das noites de trabalho no Centro de Saúde. Adoecia com toda doença que estudava, como se fosse ele mesmo o primeiro cobaia dos males desse mundo de Deus.

 

sábado, 7 de junho de 2014

Trio Mossoró.

LANÇAMENTO
               
         
     
    Lançado recentemente em Mossoró, o livro MINHA HISTÓRIA de Oseas Lopes, Trio Mossoró a Carlos André, conta em detalhes a trajetória dos artistas mossoroenses que mais fizeram sucesso em nível nacional. Formado por três irmãos, Oseas Lopes, depois rebatizado artisticamente de Carlos André, mais Hermelinda e João Batista, o livro tem a apresentação de Raimundo Fagner e o prefácio de Luiz Vieira. O livro traz depoimentos de artistas, produtores e até do jurado mais famoso do país, José Messias, um dos maiores incentivadores do TRIO MOSSORÓ, ainda em início de carreira no Rio de Janeiro. 
   O mais interessante na história dos três irmãos desbravadores, é o início de tudo. Como um simples pintor de carroceria de caminhão, no caso Oseas Lopes, foi descoberto? Ele costumava cantar músicas de Luiz Gonzaga, enquanto pintava frisos em carrocerias de caminhão, pois tinha letra caprichada e elogiada pelos colegas de escola. E todo dia outro jovem como ele, passava a caminho do seu trabalho, uma emissora de rádio, e observava-o cantar. O ano era 1956 e o jovem locutor, o saudoso Canindeh Alves, que ousou convidar Oseas, então com 17 anos, para cantar na festa de primeiro aniversário da Rádio Tapuyo. Oseas espantado com o convite, não entendeu direito, mesmo assim, levou Canindeh até sua casa e, com a permissão do pai, Messias Lopes, cantou para um auditório lotado. Ali estava traçado seu destino de cantor, depois sanfoneiro, compositor, produtor musical, inclusive, do seu ídolo, Luiz Gonzaga.  
   O livro também conta as tragédias que abateram dois filhos de seu Messias Lopes, primeiro Edson, funcionário da Petrobras, vítima de grave acidente numa plataforma; e Cocota, o maior seresteiro da cidade, assassinado por um menor,às vésperas de viagem para o Rio de Janeiro, onde se uniria aos irmãos e tentaria carreira solo.    
   Quem quiser saber mais detalhes do sucesso do ritmo forró na região Sudeste, precisa ler a biografia do homem que mudou seu nome artístico para Carlos André, após gravar e estourar o sucesso Se Meu Amor Não Chegar, cujo refrão Eu hoje quebro essa mesa, se meu amor não chegar, gravado em 1974, vendeu um total de um milhão de cópias e ainda é executado em emissoras de rádio.       No livro, o registro fotográfico do Trio Mossoró, de Carlos André e família, amigos e toda discografia do TRIO MOSSORÓ, de sua carreira solo e artistas que ele produziu.
      Essa primeira edição sai pelo Projeto Rota Batida, da Fundação Vingt-un Rosado, da Coleção Mossoroense, sob o patrocínio da Petrobras, Governo do Rio Grande do Norte e Cosern.
      O livro tem 200 páginas e pode ser adquirido através do e-mail: emuribeka@uol.com.br com entrega via Correios ou a domicílio para Mossoró.    

sexta-feira, 6 de junho de 2014

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Milson Dantas, o boêmio e inventor.

O professor Milson Dantas foi sepultado ontem, no cemitério Morada da Paz, mas deixou marcas profundas na sociedade potiguar pelos serviços prestados, a sua convivência cordial e alegre e o seu espírito solidário. Era uma figura ímpar. Deixou saudades em todos que o conheciam na Universidade Federal do Rn e nos meios acadêmicos, graças a sua patente do método "Bripar", para a qual contou com o apoio e contribuição do seu amigo, já falecido, professor Juarez Pascoal, pernambucano e engenheiro e professor do curso de engenharia civil da UFRN. Sobre o "Bripar", a edição de hoje, 6, do Novo Jornal, publica uma reportagem sobre o dr. Milson Dantas, habituê do "Bar de Cid", há décadas.  Ele deixou de receber compensações das prefeituras depois que a sua patente tornou-se de domínio depois de 30 anos do registro.Mesmo assim, anualmente, ele se dirigia à Fundação de Pesquisas do RN-FAPERN, no Centro Administrativo  do Estado, para pagar a taxa do registro do seu direito autoral.
Há 5/6 anos, tirei a foto acima na calçada do bar, ocasião em que ele degustava uma cerveja gelada com caranguejos, ao lado do seu amigo "Carlão". Bem humorado, Milson Dantas gostava de contar histórias da II Guerra que provocavam muitos sorrisos e atenção dos frequentadores do bar.
Luiz Gonzaga Cortez.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Solino relembra Milson Dantas.

tenho a imensa tristeza de registrar o falecimento ontem de meu amigo milson dantas. tinha 92 anos, era bem-humorado, independente e tinha a mente ativa como a de um menino. sabia viver, não dava importância a dinheiro (embora fosse o inventor mais importante do século XX no RN) e era principalmente uma pessoa do bem.
ontem mesmo eu estava pensando em que eu mesmo deveria escrever a sua história e publicar em inglês para que o mundo tomasse conhecimento de sua importância.
morreu dirigindo seu próprio carro, resolvendo seu próprios problemas como uma pessoa independente faz. fico feliz com essa parte. descanse em paz, milson. você continua vivo em nossa memória.
Fonte: Facebook.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

"Voínho" partiu. Frequentador do Bar de Cid, em Candelária, o engenheiro Milson Dantas era um homem querido dos boêmios do bairro. O uísque era a sua bebida preferida, mas conversava mais do que bebia. Uma grande figura humana.




Engenheiro Milson Dantas morre após acidente de carro

Publicação: 05 de Junho de 2014 às 11:40 | Comentários: 0
Tribuna do Norte
 
O engenheiro Milson Dantas faleceu aos 92 anos, nesta quinta-feira (5), após não resistir aos ferimentos ocasionados por um acidente de carro no fim da tarde de ontem, na avenida Salgado Filho, zona Sul de Natal. O velório vai ocorrer no Cemitério Morada da Paz, no bairro de Emaús, às 17h, seguido do sepultamento. Ele deixa esposa, dois filhos e uma neta. 

Milson chegou a ser socorrido e encaminhado à um hospital. Os médicos o submeteram à cirurgias, mas não foi possível conter os machucados. Na manhã de hoje seu corpo foi encaminhado ao Instituto Técnico-Científico de Polícia do Rio Grande do Norte (Itep/RN) e liberado para a família.

O imortal da Academia Norte-Riograndense de Letras, Ticiano Duarte, era amigo pessoal de Milson e falou sobre a perda. "Milson foi um dos maiores maiores nomes da engenharia do Rio Grande do Norte. Ele inventou o sistema britar, usado nacionalmente. Era uma pessoa muito bem relacionada na sociedade potiguar. Participou dos anos dourados de Natal, das festas sociais e reuniões no Aeroclube. Deixou muitos amigos e deixará saudades no Estado", destacou.

O método 'Britar' de pavimentação consiste na utilização de blocos de brita e cascalhinho unidos à paralelepípedos no calçamento de vias. O engenheiro detém a patente do serviço e o sistema é considerado uma das invenções mais antigas do Rio Grande do Norte.
O método de pavimentação "bripar" foi  implantado em Natal na década de 70, que consistia na mistura de betume, areia e brita. Foto do Google. O método de pavimentação "bripar" foi  implantado em Natal na década de 70, que consistia na mistura de betume, areia e brita. Foto do Google.