sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Vamos fazer uma batalha carnavalesca?

Gberg Costa compartilhou a foto de Renan Ribeiro de Araújo.
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  • Gberg Costa Todos convidados para o Ensaio Geral da Banda Antigos Carnavais, dia 14 de fevereiro, ás 18 hs, no Bar Amarelinho, Praça André de Albuquerque, Cidade Alta/Natal. Frevo sob o comando do maestro Resende. A nossa Banda conta com 40 músicos, 2 bonecos gigantes, 2 estandartes e prestaremos uma justa homenagem ao nosso saudoso coordenador Baíto.
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Fonte: Facebook. Gutemberg Costa e o ex-deputado Floriano Bezerra, nome e renome na história do sindicalismo potiguar.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Confraria de Floriano.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

CARTAS DE COTOVELO 2014 (6)



            Estou desconfiando que já vivi demais, pois todos os livros de reminiscências que tenho lido nos últimos tempos, me encontro na história ou na paisagem.
            A coincidência mais recente ocorreu com a pequena obra ‘Confraria de Floriano’, que recebi de presente de um dos seus integrantes, o amigo e escritor Ormuz Barbalho Simonetti.
            O livro apresenta registros emocionais e emocionados de alguns dos meninos protagonistas dos acontecimentos marcantes dos anos 60 e 70, numa velha bodega na esquina das Ruas Princesa Isabel e Apodi nº 160, de propriedade de Floriano (Jordão de Andrade), de tradicional família macaibense, onde foi fundada a Confraria de adolescentes, compartilhando com o Mercadinho de Pedro David, no outro lado da rua.
            As narrativas evocam os anos dourados em Natal, um verdadeiro ‘tempo dos pardais no verde dos quintais’, onde o medo se chamou ‘jamais’.
            Não participei dessa Confraria, mas de outra que se reunia na Rua Ceará Mirim, no Baldo, mas a bodega era também eventual pouso de nossa turma quando se dirigia para a diversão nos mesmos lugares rememorados dos cinemas Rex, Rio Grande e Nordeste, com algumas incursões no Poti e certamente nos filmes de faroeste e seriados(Legião do Zorro, O Homem Fioguete, Flaxh Gordon, Tarzan, Rock Lane, Roy Rogers, Gene Autry, Cavaleiro Negro) dos cinemas São Luiz e São Pedro, estes no Alecrim, tendo por transporte o velho ‘bonde’, de saudosa memória. Ainda tenho guardada uma substancial coleção de revistas em quadrinhos daquele tempo, iniciada desde 1948 em Macaíba e adquiri praticamente todas as séries em cópias reproduzidas em DVD,s.
            Lembro-me bem que comprávamos cigarros, que eram acesos em uma lamparina permanente acesa, escondida em um pequeno caixote de madeira, com um orifício na parte superior e lá éramos abastecidos com uma guaraná ou, às vezes, algo mais ‘substancioso’ para nossas folias.
            Recordo dos polis fabricados em casa, dos lanches no ‘Dia e Noite, Espaguetilândia, Caldo de Cana Orós, dos porres de lança perfume, da cuba libre, da vodka com laranjada, do cuscuz da Mata, naqueles taboleiros de metal com duas tampas e da correria dos vendedores para atrair clientes, do verdureiro trazendo os seus produtos nos ombros (caçoás), do pão vendido em cestos por Seu Pedro do pão, no lombo de animais, a velha da carimã, pirulito, cocada, rolete de cana, cavaco chinês(está de volta), dos velhos carnavais das ‘bagunças’ e dos bailes na Assen, Aéro, América e ABC. Não conheci o ‘Coice de Mula’, mas lembro dos ‘Tora da linha’.
            As peladas tinham o mesmo ardor, em quintais diferentes no Barro Vermelho ou na própria rua Ceará Mirim, como igualmente a escolha das nossas musas.
            Porém aquela vida pacífica e alegre era comum, algumas vezes perigosa, nos banhos proibidos do poço do dentão ou dos jogos nas lojas de bilhar da Ribeira, com portas fechadas por conta do juizado de menores.
            É claro que havia alguma variação nas preferências, mas a atmosfera era a mesma. Até as alcunhas ou apelidos se pareciam – Zezé, Cacá, Gordo, Magro, China, Bob, Xuba, Lula, Baiá, Bel, Baíto, os Pelados, Dôta, Beto, Gasolina, Gás óleo, Chico. Tivemos as nossas perdas pranteadas, mas nenhuma em decorrência das torturas de um regime de força. Quando muito tivemos vizinhos que responderam processos nos idos de 1964, como Renê, Juarez, Romeiro.
            Posso até ter notado aquela molecada em suas reuniões, mas lhes dei atenção, pois já estava num patamar de idade, pelo menos, em dez anos à frente, onde as diversões eram mais variadas ‘e o buraco era mais embaixo’.   
            Recordar é viver, diz um velho ditado; recordar é sofrer, as sombras do passado; de sonho que viveu em nossos corações ou de um amor que morreu deixando uma cruel paixão. Crer num sonho de ilusão, ver na imaginação ... Basta, a garganta já está embargada!

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Bar Dia e Noite.

Lembrando o bar, café e lanchonete Dia e Noite – Jahyr Navarro, médico (jahyrnavarro@gmail.com)

Somos apenas a soma das nossas lembranças. Ao longo dos anos, Natal ficou conhecida por ter pontos tido comerciais como…

Somos apenas a soma das nossas lembranças.
Ao longo dos anos, Natal ficou conhecida por ter pontos tido comerciais como bares, cafés e lanchonetes, cujos atrativos não justificavam a freguesia cativa que possuíam. Eram locais de extrema simplicidade, mas que prendiam seus fregueses pelo bom atendimento, um cardápio simplificado que atendia ao paladar de todos, além de oferecer um ambiente descontraído onde quase todo mundo se conhecia.
Procurando conhecer a origem desse comércio – dia a dia mais promissor –, encontrei nos alfarrábios, textos que lembram a nossa cidade numa data muito recuada, quando verifica-se que tudo teve seu início com o surgimento de um bar que foi pioneiro nesse setor. Este foi inaugurado na Travessa Aureliano, na Ribeira, com o nome de bar “Chile”, que serviu de modelo aos demais seguidores.
Logo depois, sequenciado pelo modismo que já existia à época, surgiu o bar “Antártica”, ainda na Ribeira, que depois de muito sucesso, cedeu seu espaço físico ao “Cova da Onça”, que já chegou aos nossos dias num estado agonizante.
Descobri ainda, que na Cidade Alta, precisamente na rua Ulisses Caldas, foi inaugurado o bar “Potiguarânia”, seguindo a mesma trilha de seus antecessores, fazendo algumas inovações que caíram no gosto de seus frequentadores. Perdurou alguns anos, até ser absorvido com toda sua estrutura pelo “Magestic”, que deu continuidade ao mesmo estilo.
Na rua João Pessoa, – no Grande Ponto do meu tempo – tivemos o café “Maia” de Rossini Azevedo, o “Vesuvio” de Maiorana, o “Botijinha” de Jardelino Lucena, o bar e confeitaria “Cisne” de Mucio Miranda e o “Dia e Noite” de Nilton Armando de Souza. Este, com larga vivência no ramo – ex-garçom –, mas, sabia como ninguém, lidar com sua freguesia usando a devida leveza, o prazer de servir e a dignidade profissional que ostentava.
Esse bar, próximo aos outros na João Pessoa, ficava quase em frente à Caixa Econômica, com seu espaço físico sendo ocupado hoje por uma loja que vende óculos e outras bugigangas de somenos importância. Abrangia uma pequena área delimitada por duas fileiras de mesas dispostas paralelamente, e no meio, um corredor por onde transitava o garçom e os convivas de ocasião. Lá no fundo, um balcão e por trás dele, a figura sempre presente de seu proprietário que se atinha a tudo o que se passava no recinto. No final, existia uma parede divisória e à sua direita, uma pequena abertura de forma semilunar, que servia de comunicação com a cozinha e por onde eram enviados os pedidos ou comandas. No cardápio, constavam os mesmos itens desde sua inauguração e quando ocorria alguma alteração, era quase sempre na ordem inversa de seus itens.
Entretanto, o seu ponto alto era o garçom, vítima de todo tipo de gozação. Muito estimado por todos, atendia pelo apelido de “Gasolina” e possuía o dom da tolerância, sem nunca ter revidado as irreverências recebidas. Nunca perdia a fleuma, nem mesmo, quando nos pedidos estava inserido o duplo sentido, tais, como: – “Gasolina, suspenda os ovos e passe a língua…” E assim por diante.
Esse bar, que nunca fechava – razão do nome – era também palco de muita confusão, principalmente nas madrugadas dos fins de semana, quando as rixas iniciadas nos clubes sociais, terminavam quase sempre no seu âmbito, ou nas circunvizinhanças. Os motivos? – Os mesmos de sempre: o ciúme, a política e o esporte. Havia ainda uma particularidade pouco observada, que era a ausência do sexo feminino no seu interior. Quando muito, elas eram atendidas em seus automóveis que ficavam nas imediações do bar.
Ainda lembro de muitos que frequentavam esse bar com certa assiduidade. Todos foram bem sucedidos nas escolhas profissionais que fizeram e houve quem atingisse o topo na política, outros, nas empresas e os demais nas profissões que abraçaram. Citarei os nomes de alguns para poupar os poucos leitores desse incômodo: Artuzinho, Hélio Santa Rosa, Hélio Nelson, Sidney e Ronald Gurgel, Haroldo e Franklin Bezerra, Marcos e Marciano Oliveira, Oscar e Osmar Medeiros, José e Ivo Barreto, Diógenes da Cunha Lima, Syllos Carvalho, Fernando Bezerra, Roberto Furtado, Lenilson Carvalho, Mario Sá Leitão, Waldemar Mattoso, Bentinho, Murilo Concentino, Aldanir Araújo e Abreu Junior.
Não darei ênfase – como fazia antes –, ao velho adágio que diz: “aqui, tudo já teve”. Realmente, tivemos o Dia e Noite, que sem a mínima pretensão, marcou sua presença na historia da nossa cidade, quando cativou uma plêiade de frequentadores que deu a ele o prestígio que necessitava. Lembrar o Dia e Noite é massagear o ego de muitos que ainda guardam em seus corações as lembranças desse tempo. Somos apenas a soma das nossas lembranças.

Lembrando a Redinha de antigamente – Jahyr Navarro, médico (jahyrnavarro@gmail.com)

Faz algum tempo que fui a convite do Dr. Barra Pinto e na companhia de outros amigos, conhecer a peixada…

Faz algum tempo que fui a convite do Dr. Barra Pinto e na companhia de outros amigos, conhecer a peixada “Caminho de Jenipabu” – que diziam ser a melhor na época -, situada na praia de Santa Rita, bem perto da desembocadura para a praia de Jenipabu – daí vem o nome -, que num passado não muito distante, os bugres utilizavam como passagem. Hoje, apenas os sócios da cooperativa se beneficiam desse privilégio.
Há poucos dias, fui surpreendido com a notícia que essa peixada havia fechado as portas, deixando incrédula a clientela cativa que custou a conquistar. Sábado, antes de seguir para Muriú, fui até Santa Rita, quando pude comprovar a veracidade da notícia. Lembrei-me de imediato, da primeira vez que ali estive, quando conheci o seu proprietário, Sr. Alfraldízio, que além de ser um bom cozinheiro, usava seu barco de pesca para com o produto de suas pescarias, nutrir sua peixada com o melhor que existia no gênero. Acertaram no peixe e no preço.
No caminho da volta, recordei que para chegar até ali, cruzamos a Redinha Nova de ponta a ponta, desfrutando da bela paisagem litorânea que se descortinava à nossa vista e, que corria célere, através da janela do carro acelerando o ritmo das recordações. Então, num esforço de memória, lembrei-me de quantos recantos desse meu mundo, haviam-se perdido num amontoado de lembranças que guardo no recôndito do meu coração e, que de súbito, tentavam ressurgir por todos os lados, até emoldurados com cores mais vivas. Continuei a examinar as imagens que surgiam na minha retina e vendo por trás de cada uma, a discreta lembrança da Redinha de antigamente, em cada pedaço de chão percorrido.
A Redinha do meu tempo, não tinha as proporções da atual, mas dentro dela cabia todos os nossos sonhos de juventude. Possuía até as dimensões exatas dos nossos desejos. Suas casas – quase todas de veranistas – ficavam de frente para o mar e para o rio. Entre elas, a igrejinha dos pescadores, que sinalizava – ao ser vista de longe – a alegria que todos eles sentiam no regresso aos seus lares, após vários dias de pescaria em alto mar. Para o lado das gamboas, conhecido como maruim, poucas casas permaneceram em pé após as enchentes do Potengi. Na “costa”, que era a parte da praia banhada pelo mar, sua fúria havia destruído muitas residências, ficando apenas uma, que retratava com suas sequelas a violência da sua última ressaca. No centro da Redinha, ficavam as casas menores, inclusive as dos pescadores localizadas nas ruas mais estreitas e derivadas da artéria principal, que recebeu vários nomes em várias épocas: Central, Cemitério, Floriano Martins e hoje Dr. João Medeiros Filho.
Durante o veraneio, quase todas as residências ficavam ocupadas e as poucas vazias, eram alugadas e transformadas em repúblicas para rapazes. Durante todo esse período, a Redinha vivia num clima de festa constante. Qualquer novidade era motivo para comemoração contagiando os visitantes de outros lugares.
O clube era o ponto de encontro dos veranistas que gostavam de participar das programações. Nele, tudo acontecia e dentro dele, tudo era posto em prática. Mesa para pingue-pongue, mesa para o carteado, salão de dança, treino de vôlei ao lado e uma cervejinha bem gelada em seus alpendres aos consumidores. Uma pequena parte sempre indiferente a tudo que se passava, seguia para apanhar caju no rio doce e na volta, banho de mar na costa, com disputa de natação até a “crôa” – um banco de areia que ficava distante e só aparecia com a maré baixa. Mas, o que mais tocava a nossa sensibilidade, era assistir todas as tardes as famílias no trapiche – que ficava em frente ao mercado – esperando seus entes queridos que regressavam sempre no último bote. A alegria da chegada compensava os abraços recebidos. À noite, na areia em frente ao clube, era quando se reuniam rapazes e moças, em torno do violão “magistralmente” executado pelos amigos Bochechinha, Romualdo – irmãos – e Zé Luiz. Todos já falecidos.
Com o fim do veraneio a praia ficava deserta. O que antes era alegre passou a ser triste. Onde havia euforia, imperava uma paz gerada pelo silêncio. Silêncio este que só era quebrado pelo zunir do vento ao impulsionar a areia da praia, a invadir os terraços das residências, formando verdadeiras dunas, algumas atingindo os telhados já bem rebaixados.
Hoje, a Redinha faz parte de Natal como um bairro diferente, tendo a ponte Newton Navarro como o seu traço de união. Com a construção dessa ponte, tudo se tornou mais fácil para os dois lados. Pelos padrões da modernidade, nada falta aos seus moradores. Possuem hotéis, bares, supermercados, clube, escolas, lojas etc, e para completar esse lado moderno de todo bairro chique, já convivem com o asfalto e os assaltos.
De tudo, guardo dentro de mim – mesmo com o alongamento do tempo – todos os veraneios que desfrutei ao lado dos meus amigos, inclusive, com seus mínimos detalhes, que cada vez que são lembrados, enriquecem ainda mais o meu tempo de juventude naquela Redinha de antigamente.

Azulão, o bar de Dequinha.

Lembrando o bar Azulão do meu tempo – Jahyr Navarro

Existe um bar na avenida Afonso Pena, situado nas proximidades da Casa de Saúde São Lucas e do hospital Natal…

Existe um bar na avenida Afonso Pena, situado nas proximidades da Casa de Saúde São Lucas e do hospital Natal Center, já bem posicionado para em caso de uma emergência, encaminhar – sem ambulância – seus fregueses necessitados aos serviços médicos especializados. É o que se pensa ou que se presume, em se tratando de um bar cuja principal mercadoria é a bebida alcoólica.
Ledo engano. Nesse caso – que julgo ser uma exceção – a ingestão alcoólica é secundada e muito pela discussão em torno da política e do futebol. Lógico, que há sempre por perto a presença de um copo com um bom vinho ou whisky, “ouvindo a conversa”. Contudo, pode passar horas a fio sem ser utilizado, ou até mesmo esquecido, quando suplantado pelos gritos ensurdecedores que antecedem as apostas.
Esse bar, conhecido como o “Azulão”, de propriedade do sr. José do Patrocínio Amorim, carinhosamente apelidado de “Dequinha”, que é irmão de João Nobre do Amorim – já falecido – e que foi seu sócio no bar de esquina com a rua Apodi. Tinha este, uma pintura horrível, de um azul agressivo e devido a esse descompasso com o bom gosto, recebeu o nome de Azulão, pelo qual ficou conhecido e que se perpetua até hoje no novo bar que ora estamos a descrever.
Desfeita a sociedade, cada um tomou seu rumo. Joãozinho escolheu outra atividade e Dequinha continuou no ramo, inaugurando o novo bar na parte posterior do mesmo prédio com vistas à avenida Afonso Pena. Deu nova feição, nova roupagem e preencheu as lacunas existentes no anterior. Entre tantas, a música ao vivo, com cantores amadores de sua própria freguesia e com o magistral acompanhamento dos violonistas Franklin e Raimundo Flor. Até Fagner já se apresentou para essa plateia amante da música popular. O tira-gosto de boa culinária domestica, é iniciado com uma paçoca de feijão verde e seguido por outros na escolha do gosto de cada um. Na parte que corresponde aos fundos, existe um pequeno recinto onde frequenta um diminuto grupo no horário noturno, conhecido como “Espaço da amizade tio Ney”. Uma alusão ao dr. Ney Marinho, uma grande figura humana que nos deixou muito antes do esperado, impondo nos corações dos seus verdadeiros amigos, uma saudade imorredoura. A nossa conformação com esta perda, é que “Deus não prefere os escolhidos, Ele escolhe os preferidos.”
No seu interior frequentam vários grupos diferentes em diferentes horários, caracterizando uma rotatividade bem superior à sua capacidade de atendimento. Possui uma freguesia eclética e tranquila, composta por dentistas, advogados, engenheiros, economistas, comerciantes, bancários, juízes, padres, jornalistas, hoteleiros, políticos, médicos e demais componentes de nossa sociedade. Em suma, a sinfonia que toca é a mesma em todos os bares desse gênero: roedeiras, negócios realizados ou desfeitos, casamentos acabados ou recomeçados, futebol, política, prisão dos mensaleiros, etc.
Em qualquer mesa se escuta sempre uma historia engraçada acontecida dentro do próprio bar. Muitas beirando a absurdidade. Algumas, dignas de serem ouvidas, outras, indignas de serem mencionadas. Nesse intermezzo, apela-se para o anedotário dissipando assim o constrangimento ocasional que sempre acontece.
Certo dia, uma senhora ao passar por sua frente, tomou um grande susto ao avistar um conhecido que há muito procurava – um tabelião aposentado – que estava bebericando uma cerveja. Refeita do susto, disse para o marido: – “Pia Pedro, veja quem está ali” e continuou: – “seu fulano, faz tempo que estamos à sua procura, pois estou me aposentando e a certidão de meu casamento está errada. O sr. casou-me com meu sogro.” Num impulso de autodefesa, o tabelião respondeu: – “Minha amiga, não se preocupe que o juiz resolverá tudo. O que houve foi que a senhora levou-me para fazer esse casamento em sua fazenda e lá, entregou-me uma galinha bem torradinha e um litro de whisky. Só podia dar no que deu…”
Deve acontecer o mesmo ou algo parecido em outros bares desse mesmo padrão. Entretanto, quando se conhece os personagens o quadro adquire um novo formato, pelo jogo fisionômico, os gestos, as peculiaridades e a graça de sua encenação. O “habituè” se torna conhecido pelo dono por sua bebida predileta, o assunto que costuma discutir, sua cor partidária, seu time de futebol e a gradativa transformação fisionômica que ocorre pela ingestão da bebida consumida. São esses dados que formam o conceito de cada freguês, despertando uma grande alegria por alguns que chegam, em contraste com uma imensa apreensão por outros que demoram em sair.
Há ocasiões, em que o bar se reveste de uma aura positiva que o torna acolhedor, coberto pelo manto de uma quietude convidativa. Em outras, o negativismo impera e o ambiente fica sombreado pelo clima morno da indefinição.
É por esse prisma que vejo o Azulão de hoje. Não com sua cor característica, muito menos pelas circunstâncias negativas que também acontecem em todos os bares. Mas, pelas cores que gostaria de pintá-lo e com elas, procurar alegrar o ambiente e o circulo de amizade que construí ao longo do tempo, renovando assim, o espírito boêmio que há muito me acompanha.

(jahyrnavarro@gmail.com)