REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – IV
...Em uma prateleira suspensa acima do balcão, pendurados com arame, podiam ser vistos outros itens tais como: peças de corda de agave, rodinhas de madeira para carro de brinquedo, baladeiras, tranças com cabeças de alho e de cebolas, vassouras de palha de carnaúba, canecos de alumínio e ágata, colheres de pau, raladores do coco, urupemas, espanadores, pinico, o velho conhecido urinol nas versões alumínio e ágata, colheres de pedreiro, lamparinas feitas de lata, pavios para candeeiros e lampiões, etc. No canto da parede, vassouras de piaçava – industrializadas - e cabos feitos com vara de marmeleiro, complemento que acompanhavam as vassouras de palha de carnaúba. Em uma gaveta abaixo da mesa do centro o dinheiro graúdo ficava dentro de uma caixa de charutos. O de menor valor, separado para troco, misturava-se com caixas de fósforos da marca Olho, cigarros em retalho e os famosos charutos Cesário. Por ser mais seguro, colocava também naquela gaveta pólvora negra da marca Elefante e espoletas guarani, vendidas para espingarda de soca.
Em um “fiteiro”, bem a mostra numa das prateleiras de fundo, guardava produtos de aviamento tais como: carretéis de linhas branca e coloridas, lixa para unha, fecho ecler (zíper), colchetes, botões de diversas cores e tamanhos, alfinetes, agulhas para costura e agulhas de palombá – usadas para coser sacos de cereais – dedais, etc. Em cima da mesa arrumados uns sobre os outros, marços de cigarros industrializados como o Astoria, Gaivota, Continental, Hollywood e, ainda, os fabricados no Ceará, Asa e Iolanda. Vendia também para uma clientela seleta fumo de rolo e rapé (torrado) vindo direto de Arapiraca, como também o papel Colomy, utilizado na confecção dos cigarros também conhecidos como “brejeiros”. Naquele bazar, tinha de um tudo. Se o cliente procurasse e tivesse paciência podia encontrar até mesmo o famoso freio pra gato.
Em um “fiteiro”, bem a mostra numa das prateleiras de fundo, guardava produtos de aviamento tais como: carretéis de linhas branca e coloridas, lixa para unha, fecho ecler (zíper), colchetes, botões de diversas cores e tamanhos, alfinetes, agulhas para costura e agulhas de palombá – usadas para coser sacos de cereais – dedais, etc. Em cima da mesa arrumados uns sobre os outros, marços de cigarros industrializados como o Astoria, Gaivota, Continental, Hollywood e, ainda, os fabricados no Ceará, Asa e Iolanda. Vendia também para uma clientela seleta fumo de rolo e rapé (torrado) vindo direto de Arapiraca, como também o papel Colomy, utilizado na confecção dos cigarros também conhecidos como “brejeiros”. Naquele bazar, tinha de um tudo. Se o cliente procurasse e tivesse paciência podia encontrar até mesmo o famoso freio pra gato.
Dizem que a velha balança da bodega foi presenteada por sua mãe quando ele ainda era criança em uma de suas viagens a Macaíba. A peça foi adquirida de um artesão na feira domingueira daquela cidade. Invocando o espírito altaneiro de Fabrício Pedroza, expoente máximo do comércio em toda região, lhe entrega a peça com a seguinte recomendação: ”vai Floriano, e seja um grande comerciante na vida!”
Ao lado do balcão, encostada na parede, uma velha quartinha de barro coberta por com uma caneca de alumínio atendia os pinguços mais sedentos, principalmente nas primeiras horas da manhã. A colocação estratégica da quartinha era beneficiada por uma brisa fraca, porém constante, que entrava pela porta voltada para o nascente. Em cima de um tamborete, uma velha lamparina a querosene, permanentemente acesa para o acendimento de cigarros. Recusava-se peremptoriamente a emprestar caixa de fósforos para acender cigarros dos fregueses. Em sua concepção, um gasto desnecessário, além do risco de perdê-la para os clientes mais “esquecidos”.
Próximo às caixas de cervejas, empilhadas uma sobre as outras, uma lata de querosene Esso Jacaré e vários litros e garrafas com barbante amarrado no gargalo para facilitar o transporte e o contato com a mesma. O funil era colocado na primeira da fila e à medida que fossem enchendo, ia passando para as outras. Após o envasamento eram lacradas com tocos de sabugos de milho. Esse serviço era supervisionado por Floriano, porém, executado com a ajuda de alguns dos pinguços de plantão, que ao final do dia, eram regiamente pagos com um copo bem cheio da “prata da casa”.
Em cima do balcão um balaio de pão coberto com um pano feito de saco de açúcar, diariamente abastecido pela manhã e a tarde por "Mané do Pão" trazidos diretamente da padaria Rio Branco de seu Leonel. Pães tipo crioulo, francês, carteira e doce eram rapidamente vendidos as donas de casa da redondeza.
No centro do balcão papeis para embrulhos misturados com pedaços de jornais, usados na embalagem dos produtos, descalçavam sob um enegrecido cepo de madeira. Para essa tarefa contava com a habilidade das mãos de Floriano que após acondicionar o produto vendido no centro do papel, começava a torcê-lo de baixo para cima executando uma série de dobras, uma sobre a outra, até transformar o embrulho em uma embalagem hermeticamente fechada. Coisas daquela época... Diferentemente do hoje que temos um saquinho plástico para tudo, inclusive, contribuindo para a poluição do planeta.
Em baixo do balcão, suspensa em uma prateleira, uma bacia com água usada na lavagem dos copos de pinga. Chacoalhava o copo dentro da bacia e em seguinte o pendurava num secador de madeira preso na parede. Pouco tempo depois o copo já estava “esterilizado” e pronto para ser utilizado novamente. A água da bacia, naturalmente, só era trocada ao final do dia.
Sentados em velhos tamboretes ou em caixas vazias de cerveja, os “pinguços” mais assíduos. Entre uma lapada e outra, inevitavelmente precedida de um sonoro estalo de língua, degustavam a marvada. Como parte do ritual, após sorver aquele néctar, grossa cuspidela era atirada naquele chão de antepassados companheiros de garrafa, já encaminhados pelo Altíssimo, pra o andar de cima. Contavam suas aventuras, recheadas de devaneios, muitas vezes produto de suas mentes já corroídas pelo álcool.
O anfitrião debruçado por cima do balcão com o queixo apoiado em um dos braços, com olhar sonolento e distante, escutava as mesmas estórias fantasiosas, somente despertado pela chegada abrupta de algum cliente. O pinguço alheio a tudo e a todos, continuava sua narrativa muitas vezes sem que a presença do cliente fosse notada.
Vez por outra também eram interrompidos pelos gritos estridentes de Minervina, esposa de Floriano, que vivia com cara de poucos amigos, a procura do papagaio fujão. Louro! Louro! Cadê você louro? Às vezes o papagaio fugia e se empoleirava na porta de duas folhas que dividia a casa da bodega. Tanto Floriano como seus asseclas, mesmo sabendo da localização da ave fujona deixavam que Minervina continuasse a procura que certamente terminava em boas risadas quando a ave finalmente era encontrada. Dessa forma vingavam-se da matrona, que vez por outra, estando ela de maus bofes, invadia a bodega e esculhambava todo mundo.
Vez por outra também eram interrompidos pelos gritos estridentes de Minervina, esposa de Floriano, que vivia com cara de poucos amigos, a procura do papagaio fujão. Louro! Louro! Cadê você louro? Às vezes o papagaio fugia e se empoleirava na porta de duas folhas que dividia a casa da bodega. Tanto Floriano como seus asseclas, mesmo sabendo da localização da ave fujona deixavam que Minervina continuasse a procura que certamente terminava em boas risadas quando a ave finalmente era encontrada. Dessa forma vingavam-se da matrona, que vez por outra, estando ela de maus bofes, invadia a bodega e esculhambava todo mundo.
Quando os pinguços não tinham dinheiro, Floriano não se fazia de rogado: sacava debaixo do balcão um litro branco lacrado por uma rolha de sabugo de milho, também conhecida como cachaça mole, e oferecia ao tradicional freguês, generosos copos bem cheios da “prata da casa”. Depois, sempre dava um jeitinho de ser ressarcido da generosidade com algum serviço de pouca monta (...).
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