Provence, o berço do vinho francês.
Carlos Alberto dos Santos
Professor Visitante Sênior
Instituto Mercosul de Estudos Avançados – UNILA
Publicado no O Jornal de
Hoje, 29.11.2013, p.2
A
história do vinho francês vem lá do ano 600 a.C., quando habitantes da antiga
Foceia, atualmente Foça, chegaram à região onde hoje situa-se Marselha e começaram
a cultivar uvas. As videiras se espalharam pela França e a viticultura passou a
ser uma marca desse país. Praticamente tudo que se conhece hoje em torno de enologia
tem sua origem na França, como o termo terroir,
tão propagado entre os especialistas do ramo, e a prática do controle da origem
do vinho, que geralmente consta nas garrafas através das siglas AOC
(Appellation d’Origine Contrôlée) ou DOC (Denominação de Origem Controlada).
A
consequência dessa prática é que diferente do que ocorre no Brasil e em outros
países, onde o vinho é conhecido pela cepagem,
ou seja, pela uva da qual ele foi feito, ou pela assemblage, a mistura de cepagens,
na França, com raras exceções o vinho é conhecido apenas pela região onde foi
produzido. Por exemplo, o hoje famoso Châteauneuf-du-Pape,
vinho tinto com predominância da uva grenache, deve seu nome ao vilarejo onde é
produzido, nas proximidades de Avignon, também conhecida como a cidade dos
papas, daí a denominação do vilarejo.
Conheço
esta região do Sul da França desde 1989, quando morei 16 meses em Grenoble. Em
1990, visitei a casa onde morou Van Gogh, em Arles e apreciei as paisagens por
ele eternizadas. Naquela época praticamente só consumia vinhos tintos e brancos
da Borgonha. Nunca me acostumei com a agressão do tanino presente nos apreciados
vinhos de Bourdeaux. Com o crescente revigoramento dos vinhos rosados (rosé em
francês, pronunciado rosê) nos últimos anos, passei a consumi-los com maior
frequência. Degustei varietais (vinho feito de uma única uva) e assemblagens de
inúmeros produtores argentinos, brasileiros, chilenos, franceses e portugueses,
para confirmar o que se diz na França: não há quem supere a qualidade do rosê
produzido na Provence.
Resolvi
ir à fonte. Tenho amigos em Lorgues, uma cidadezinha provençal rodeada de
vinícolas, e para lá parti no início de novembro. Em busca de dados
estatísticos e informações sobre a produção do vinho rosê, descobri que os
números impressionam na mesma proporção em que extasiam a paisagem daquela bela
região. São aproximadamente 400 propriedades, cada uma com 50 hectares em
média, produzindo anualmente algo em torno de 150 milhões de garrafas de vinho,
88% rosê, 9% tinto e 3% branco. Confirma-se, portanto, que a Provence é a terra
do rosê, responsável por 40% da produção francesa desse vinho e 8% da produção
mundial. Nos últimos 20 anos, mais do que dobrou o consumo desse vinho na
França. De 10% em 1990, o percentual de vinho rosê consumido na França passou
para os atuais 25%.
Há
algumas décadas, quando eu era completamente ignorante a respeito da produção
de vinhos, pensava que existiam uvas rosadas, ou que o vinho rosê era uma
mistura de vinhos tintos e brancos. Na verdade, as mesmas uvas que resultam em
vinho tinto, podem resultar em vinho rosê. A diferença básica entre um e outro,
caracterizada externamente pela cor, resulta do tempo durante a vinificação em
que a polpa da uva fica em contato com a pele, onde são encontrados os
pigmentos coloridos. Quanto mais tempo, mais escura é a cor do vinho, passando
gradualmente do rosê claro ao tinto profundo.
A
qualidade de um vinho depende de muitos fatores, a começar pelo tipo da uva,
pelo terreno e pelo clima em que a videira é plantada e pelo processo de
vinificação. Os bons rosês da Provence são geralmente assemblagens com
predominância de grenache, uma uva de origem espanhola e que resulta em vinhos
jovens e elegantemente frutados. São vinhos com amplas possibilidades de harmonização.
De frutos do mar a carnes grelhadas não muito picantes, tudo se harmoniza com
um bom rosê da Provence.
Obrigado, Cortez, por compartilhar meu artigo. Aproveito a oportunidade para incentiva-lo a usar parte do seu blog, "engorda-lo" com outros textos e colocar tudo isso em um livro. Natal precisa de um livro desse gênero. Abraço grande
ResponderExcluir