MEU ENCONTRO COM “SEU” LUNGA: PENSE NUM VELHO BRUTO!
Por Gerson de Castro*
Foto reproduzida do página do facebook do jornalista |
Adepto, que sou, de um bom papo, regado muitas vezes a boas piadas, tive a oportunidade de conhecer há poucos dias, em Juazeiro do Norte, a figura já lendária de Seu Lunga, citado em muitas histórias, a maioria das quais ficticiamente atribuída a ele. Mas pude comprovar que o homem é mais seco que a vegetação da caatinga em época de seca. Conto, a seguir, o meu brevíssimo encontro com tal figura. Brevíssimo mesmo, porque durou, se muito, uns dois minutos.
Estávamos eu, mulher e filho e nossa amiga Ana Lúcia no centro de Juazeiro quando decidimos ir até a casa ou a loja do homem que é citado por tudo que é humorista, é figurinha carimbada em livros de cordel e já foi personagem de reportagens de tevê e até da revista Playboy.
Pouco depois das 16h30, no centro de Juazeiro do Norte. Abordo um guarda municipal e pergunto a ele onde mora seu Lunga. Ele me dá todas as coordenadas. Para, logo em seguida, dizer que seu Lunga não estaria em casa naquele horário, mas em sua loja na rua Santa Luzia, a alguns quarteirões dali.
Decidimos ir até lá. Descobrimos que o centro de Juazeiro é só nome de santo. São Pedro, São Paulo, Santa Luzia e outros santos de que já nem me lembro. Mas são muitos, garanto.
No caminho, para me certificar de que estamos no rumo certo, abordo um mototaxista e um vendedor de loja. Diante da pergunta sobre o endereço da loja de seu Lunga escuto, além da confirmação do endereço, advertências bem-humoradas do tipo “cuidado com o que vai perguntar a ele”. Ou “cuidado, que o homem é brabo”.
Achando tudo aquilo muito divertido, seguimos adiante. Quando nos aproximamos da loja de seu Lunga percebemos que o homem já está fechando sua loja. São 16h50. Rosa e Gabriel se aproximam da calçada, mas, temerosos, não abordam o homem. Ana Lúcia, amiga de velhos tempos, nos faz companhia. Decido cruzar a rua e abordar o homem que a esta altura já fechou, pelo lado de dentro, a primeira porta de rolo de sua loja e se prepara para fechar, pelo lado de fora, a segunda porta.
Encho-me de coragem e abordo o velho personagem que veste camisa azul, traz canetas no bolso e não consegue e nem tenta disfarçar o mau humor atrás de óculos escuros. O chapéu preto lhe confere um ar sombrio. Parece Waldick Soriano. Me vem à mente a lembrança de tipos que a gente encontra pelas feiras livres desse Nordeste de meu Deus.
- O senhor é que é seu Lunga? – pergunto. Mãos cruzadas às costas, em sinal de respeito. Ou timidez.
- É como me chamam – responde secamente sem nem olhar pra mim.
Chego à conclusão de que a conversa vai ser difícil. Decido, em milésimos de segundos, que não vou desistir.
- O senhor conhece Natal?
- Não – Outra resposta seca como uma faca atirada sem aviso prévio.
- Somos de Natal, no Rio Grande do Norte. Somos nordestinos como o senhor. E viemos aqui só para conhecer o senhor, que está famoso em todo Nordeste e no País. E queremos tirar uma foto.
Ele fica em silêncio e continua tentando fechar o cadeado da segunda porta de rolo. Quando se levanta, vira-se para o meu lado.
Estendo-lhe a mão direita e pergunto:
- Posso cumprimentá-lo?
Ele deixa a minha mão estendida no ar e, virando-se em direção à minha mulher, minha amiga Ana Lúcia e meu filho Gabriel, que está com a máquina fotográfica, diz simplesmente:
- Vamos tirar a foto.
Rapidamente, chamo Gabriel e juntos tiramos a foto com o tal personagem. Foto habilmente feita por Ana Lúcia. Na verdade, pensava em tirar mais de uma. Rosa vem em meu socorro e lembra que “seu” Lunga não vai ter tempo para mais de uma foto. Acho que ela quis dizer que ele não teria é disposição.
Feita a foto, seu Lunga sai de perto e começa a descer a rua Santa Luzia. Não tenho tempo sequer para me despedir. Acho que ele nem ouviu meu "obrigado".
Menos mal. Rosa e Ana Lúcia, que decidem tirar uma foto diante da loja fechada, comentam como o velho é bruto e seco. Eu rio somente. Já tenho o que eu queria: conheci seu Lunga e ainda tenho uma foto de recordação. Um verdadeiro troféu para acrescentar às minhas conversas com os amigos.
Lembranças de uma tarde quente no Ceará em que conheci seu Lunga e levei um tranca, ficando com a mão estendida no ar durante alguns segundos.
Mas, poderia ter sido pior. Principalmente se eu tivesse iniciado a conversa perguntando a ele “Seu Lunga está fechando a loja?”
Certamente o tranca seria muito maior e eu não teria a foto.
E você, se estivesse no meu lugar, faria a pergunta?
*Texto publicado com exclusividade no perfil do jornalista em sua página do Facebook.
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Postado por AssessoRN - Jornalista Bosco Araújo no AssessoRN.com em 1/06/2016 05:55:00 PM
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