domingo, 22 de abril de 2012



JORNAL DE WM

por Woden Madruga

Esta coluna é atualizada diariamente

De Castilho a Dailôr

21 de Abril de 2012
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O poeta Carlos Castilho baixou ontem no papo do Cova da Onça, vindo pela Rua Chile, onde havia deixado a moto possante. Carregava um bisaco estufado de jornais antigos e exemplares de o último número de Obotequeiro, um jornal com pinta de revista que tem como lema a salvaguarda da “nossa cultura etílico petisqueira, para jamais perder o rumo, o prumo e o juízo”. Castilho é a capa desta edição, numa entrevista que deu para o Leonardo Sodré. Confesso que não conhecia Obotequeiro, que já está no seu segundo ano de sobrevivência. Foi uma agradável surpresa: vi, li e gostei. 

Castilho, ancho da vida, distribuía os exemplares para os amigos e fregueses do Cova. Mestre Gaspar, pegou o seu, demorou olhando a capa com a pose do poeta (Castilho – O Boêmio da Redinha) e folheou rápido as poucas páginas da revista que são apenas 12. Outra excelente qualidade de Obotequeiro, além do tempero sacana da maioria de seus textos. Confira, por exemplo, o Ferreirinha  News. Mestre Gaspar, pelo sorriso que abriu no rosto, parece que gostou da primeira abordagem que fez. “Vou ler melhor em casa”, disse.

Na entrevista, Carlos Castilho - que foi registrado no cartório com o nome de Carlos Augusto Pinto - revela uma coisa que muita gente boa não sabia: nasceu sertanejo, em Lajes, o lugar que menos chove no Rio Grande do Norte, e antes de vir menino para Natal passou uma temporada em Mossoró. E faz outra revelação espantosa: só estudou em colégio religioso ou quase. Começou no Salesiano, na Ribeira, depois foi para o Externato São Luís, do padre Eimar, e finalmente no Colégio Marista, “onde me prostitui”

“Como assim, prostituiu-se?”, perguntou Leonardo Sodré

- Porque foi lá onde eu conheci amigos que me levaram para tudo quanto era bar e cabaré de Natal. O cabaré de Maria Boa era muito caro, então me iniciei no sexo nos cabarés da Rua 15 de Novembro, na velha Ribeira.

E por aí vai Castilho contando sua história e suas histórias, incluindo aí porque o apelido de Castilho. Surgiu quando o cara pegava no gol do time do América: “Diziam que eu era melhor do que Castilho da Seleção Brasileira”.

Quem quiser saber mais desta história é só conseguir por aí um exemplar de Obotequeiro. No Cova da Onça ficaram muitos. Ou então acessar www.obotequeiro.com ou jornal@obotequeiro.com.br 

As Dunas de Genipabu

Carlos Castilho grampeou no Obotequeiro,  que me deu, uma cópia que ele fez de uma crônica de Dailôr Varela, de abril de 1944, na qual o poeta e cronista, falecido domingo que passou, lembrava as dunas da praia de Genipabu. Dailôr escrevendo de São Paulo. Não consegui identificar em que jornal foi publicada. Se daqui de Natal ou mesmo lá de São Paulo. 

Achei o texto de Dailôr atualíssimo por conta destes protestos que estão acontecendo pelo litoral norte do Rio Grande do Norte contra os aerogeradores (energia eólica)  que estão sendo palitados sobre as dunas, principalmente na região de Galinhos. Me parece também que  o próprio Ministério Público, na defesa do meio ambiente, estaria ao lado dos manifestantes que vão de simples pescadores a empresários do turismo.

Bom, transcrevo algumas passagens da crônica:

- Tenho acompanhado perplexo e com imensa tristeza, uma polêmica jurídica em torno das dunas de Genipabu. Pelo que li, tem gente que se diz ser “dono” das dunas e outras paisagens verânicas. A briga está na Justiça, enquanto os bugies, lotados de turistas, sobem e descem as dunas.

- Me lembro de Genipabu do meu tempo potyguar, quando eu, cedinho veraneando na Redinha, andava até as dunas,  molhando os pés no balanço das ondas do mar. Pelo caminho, bucólico, só o vento e o branco azul da paisagem, muitas vezes encontrei pescadores solitários e andantes. Genipabu era deserta, lindamente deserta. Eu, adolescente tímido e solitário, subia as dunas e ficava lá, horas, olhando a paisagem.

- Muitas vezes eu levava livros de poesia para ler na viagem. Muito Fernando Pessoa.

- Um dia Genipabu pra mim passou a ser sinônimo de Zé Aguinaldo, Navarro, Castilho e outros tantos amigos de porres homéricos, na “tenda” vastíssima da figura humana que foi o Zé Aguinaldo, para quem já escrevi um poema. Genipabu era uma aldeia de pescadores, onde Zé Aguinaldo reinava absoluto, senhor das marés e dos ventos. Aprendi as primeiras divagações etílicas, lá. O professor Castilho foi quem me ensinou. Após o quinto copo, ele sempre recomendava, sábio: “poeta, controle suas emoções”.

- A cada passeio em Genipabu tinha vontade de ser Navarro ou Pancetti. Nunca fui, nem serei. Entre ser um medíocre pintor de marinhas, diante destes dois gênios, optei por ser um aprendiz de poesia.

Em Emaús

Anote em sua agenda: dia 26, quinta-feira que vem, será o lançamento do livro do padre e escritor João Medeiros Filho, Na estrada de Emaús. A partir das 18 horas na sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras”, da qual o autor é imortal. O livro, que sai com o selo da Letra Capital Editora, do Rio de Janeiro, tem prefácio de Valério Mesquita e orelha de Vicente Serejo.

Política

Renovação na política do Seridó, com salpicos no Rio Grande do Norte: o deputado Vivaldo Costa deixa o PR e rompe com o deputado João Maia.

Na França

Amanhã, domingo, é dia de eleição presidencial na França. Esta semana houve os últimos comícios na Praça da Concórdia. Pelo que se ouve nas esquinas do Quartier, é difícil a situação do presidente Nicolas Sarkozy.

As mais recentes pesquisas apontam a vitória do socialista François Hollande no primeiro e no segundo turnos. A vitória de François Hollande seria com uma vantagem em torno de 16 pontos percentuais.

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