A saudade que se faz sertão...
Fátima Arruda*
Foto de acervo |
Há um ano, o Seridó recebia Moacy Cirne de volta às suas raízes. Como companheira desse seridoense, que reverberava a caatinga com suas terras áridas por onde andou, resgato hoje a memória do sertão, que simboliza esse retorno às suas origens. Ainda jovem, ao deixar as terras nordestinas, levou consigo a essência do que tinha sido a sua infância no sertão, o que norteou suas inspirações, sua irreverência e inquietude ao longo de todas as andanças existenciais.
Hoje optei por ouvir Luiz Gonzaga, rasgando com sua voz sertaneja esse nosso céu tão límpido de verão, em duas de suas canções, que em muitas de nossas viagens vivenciais tanto nos emocionou, por serem tão intensas, tão verdadeiras. Ao ouvi-las neste momento, sinto de forma mais intensa a dor e a angústia que Gonzagão conseguiu expressar através de ambas, e que por isso, tão bem rememoram a lacuna deixada por Moacy entre nós - Légua Tirana e a Morte do Vaqueiro.
E por que Légua Tirana? Porque trata da distância no espaço vivencial, no tempo existencial, seja qual for a distância da qual queiramos nos queixar. Para muitos de nós, essa distância se tornou pra lá de tirana porque sem esse cabra da peste, se fez infinita.
E por que A Morte do Vaqueiro? Porque nos diz de um homem corajoso que se vai, no seu caminho solitário – o caminho de volta à terra mater. Morre esse nordestino sem deixar tostão, sem levar consigo seu matulão, mas deixa um legado literário e afetivo que a voracidade do tempo não há de apagar.
Não a toa, havia em suas auroras vivenciais uma “leitura crítico-afetivo-libertinária do que era, do que fazia, do que sentia”; por isso, “era feliz e sabia”.
Hoje, continua a vida a nos acontecer, através de alumbramentos, auroras, crepúsculos, alegrias e dores. E através da solidão que perpassa o viver. Que continue a vida também a acontecer através do resgate dos encantamentos desse nordestino cabra da peste. Reverberemos a sempre renovada emoção de Moacy ao falar do poema processo, dos quadrinhos, do cinema e de seus diretores, do fluminense, enfim, de tantas e tantas das suas paixões. Talvez, assim, possamos encurtar essas léguas tão tiranas porque infinitas, na ausência desse poeta porreta.
Fátima Arruda, em 11/janeiro/2015
*Com post na página do Bar de Ferreirinha